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Jubileu da Misericórdia - Março

Misericordiosos como o pai - Reflexão para o mês de Março

Continuamos esta nossa peregrinação por reflectir sobre as obras de misericórdia “dar de beber aos sedentos” e “perdoar as ofensas”; meditaremos sobre a parábola de a quem foi perdoado pouco, demonstra pouco amor; e vamos também conhecer a Beata Isabel Canori Mora, belo exemplo de quem soube perdoar e cujo amor conquistou aquele que a ofendia – o próprio marido.

Obra de Misericórdia Corporal: "Dar de beber aos sedentos"

Não há homem ou mulher que na sua vida, como aquela mulher da Samaria que se encontrou com Jesus (Jo. 4,5-42), não se encontre junto de um poço com um cântaro vazio, com a esperança de saciar o desejo mais profundo do coração, o único que pode dar significado pleno à existência. Também a Igreja sente o desejo de tornar o Senhor presente nas vidas de todas as pessoas, de modo que O possam encontrar, porque só o seu Espírito é a água que dá vida verdadeira e eterna.

O Papa Francisco lembra que povos inteiros adoecem e morrem por beberem água não potável. Afirma que o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial e universal. Este mundo tem uma grave dívida social para com os pobres que não têm acesso à água potável, porque isto é negar-lhes o direito à vida.

Obra de Misericórdia Espiritual: "Perdoar as ofensas"

A revelação bíblica comunica um Deus capaz de perdão, cujo amor extremo – manifestado em Jesus - inculca em nós o amor aos próprios inimigos. Esta é a prescrição mais exigente de Jesus e é o sinal distintivo da vida e conduta cristãs. “Quem não ama quem o odeia, não é cristão” (2ª Carta de Clemente). O perdão dos inimigos “pertence à perfeição da caridade” (S. Tomás de Aquino). Esta obra de misericórdia está bem evidente na própria oração do Pai-Nosso (“perdoai-nos as nossas ofensas como nós perdoamos…”).

Também aqui tem importância decisiva o sacramento da Reconciliação, que permite tocar sensivelmente a grandeza da misericórdia e será, para cada penitente, fonte de verdadeira paz interior.

Parábola: A quem foi perdoado pouco, demonstra pouco amor... (Lc. 7,36-50)

Jesus convivia com os pecadores, o que escandalizava certas pessoas, como os fariseus. Num almoço em casa dum fariseu uma mulher pecadora lava os pés de Jesus com lágrimas, beija-os e perfuma-os. Estes gestos desconcertam os presentes: como pode Jesus, deixando-se tocar assim, aceitar ser contaminado com o pecado dela? Jesus conta a parábola de dois devedores, ambos perdoados na sua dívida: o devedor a quem foi perdoada a maior soma, amará mais o seu credor.

Jesus diz que à mulher pecadora foram perdoados os pecados e por isso muito amou. Se não se lhe tivesse perdoado uma culpa tão grande, agora não teria capacidade para amar. Ela é capaz de amar porque lhe foi dada uma graça sem condições. Por outro lado, quem não vive o amor gratuito de Deus, não está em condições de amar.

A mulher aproximou-se de Jesus, superando os obstáculos, porque teve uma inabalável fé: Jesus é capaz de perdoar os pecados.

Isto significa que a Igreja é composta por servos aos quais é perdoada uma dívida ilimitada para que possam perdoar aos outros servos. A misericórdia de Jesus redime a miséria humana.

Beata Isabel Canori Mora

Hoje muito se fala da misericórdia que muitas famílias estão a necessitar, afogadas em problemas e conflitos. Às vezes, para as salvar, chegaria somente a misericórdia pacientemente exercitada por um único membro, capaz de esperar e de amar com esperança.

Tal foi a história de Isabel Canori Mora (1774-1825), mulher com amor heróico. Casou com o jovem e rico advogado Cristóvão Mora. Ele estava encantado com a beleza dela, não queria que fizesse qualquer trabalho que a pudesse desfigurar. E também tinha um ciúme obsessivo. Mas após poucos meses, tornou-se distraído, ausente, passando noites fora de casa. Havia rumores que andava com outra mulher e as perdas no jogo multiplicavam-se, até que se viu reduzido a nada, só com dívidas. Tiveram de mudar de casa e Isabel tinha de cuidar dos filhos com o trabalho das suas mãos.

Isabel tinha acolhido sacramentalmente o seu esposo que depois a renegou e traiu. Então o verdadeiro Esposo, o Único, decidiu tomar o lugar que lhe competia e também sensivelmente: assim a vida mística de Isabel foi rica de orações, visões e irresistíveis transportes amorosos – ela vivia os seus dias em total união com o Senhor. Participava diariamente na Missa, cuidava das suas meninas, dos trabalhos domésticos e rezava.

Cristóvão quase nunca se deixava ver, vinha de madrugada, mas Isabel tinha decidido não discutir mais com ele e dirigir-lhe apenas boas palavras ou alguma exortação para mudar de vida. Ela, no seu tempo livre, dedicava-se às obras de misericórdia: alimentava os pobres, visitava os doentes, não tentava escapar aos serviços mais humildes e repugnantes. Cristóvão ia-se enfurecendo a ponto de ameaçar matar a mulher.

Isabel rezava pela salvação do marido e também da sua amante. Sabendo que se avizinhava a hora da sua morte, Isabel recomendou às filhas que respeitassem e ajudassem sempre o papá. Morreu aos cinquenta anos. Cristóvão permaneceu perto dela, choramingando e cheio de confusão. Ele nada tinha dito mas, pouco tempo antes, morrera-lhe nos braços também a amante. Ele transformou-se: não se preocupava já com a sua elegância, passava longas horas na igreja e chorava. Dizia que tinha feito Isabel santa com as suas desordens. Nove anos após a morte de Isabel, concluídos os estudos de teologia, foi ordenado sacerdote. Também ele morreu – depois de onze anos de remorsos, orações e penitências - com fama de santo.

P. Jorge Doutor (Comissão da Unidade Pastoral de Sintra para o Jubileu da Misericórdia)

 

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