Ferramentas Pessoais

Você está aqui: Entrada / Jubileu da Misericórdia / Jubileu da Misericórdia - Maio

Jubileu da Misericórdia - Maio

Misericordiosos como o pai - Reflexão para o mês de Maio

 

Este mês de Maio vamos aprofundar e meditar a Parábola do fariseu e do publicano: o acolhimento aos peregrinos, a assistência que damos aos vivos e o que rezamos pelos que já partiram para junto do Pai. Reler esta Parábola - e a meditação é um bom pretexto para o fazer - levou-me a pensar como nos revemos no fariseu e apenas numa parte pequena nos revemos no publicano.

Na verdade tentamos e focamo-nos em cumprir “quase” tudo o que é obrigatório para tranquilizar a consciência: vamos à missa todos os domingos, dias Santos e até várias vezes durante a semana. Confessamo-nos - um pouco repetitivos, diga-se -, não andamos a cobiçar a mulher ou o marido do próximo, não matamos (pelo menos fisicamente porque com os mexericos damos muitas facadas), nem assaltamos bancos. Até contribuímos para as despesas da Igreja, o que só muito poucos fazem e até nos damos muito bem com o Senhor Prior. Tudo isto é ótimo e indispensável, mas será o suficiente? Não nos falta um pouco da tal misericórdia, daquilo que se dá com o coração? Aquilo que não fazemos não será o mais importante? Aquilo que devíamos repartir não será tirar aos outros? Aqueles com quem nos cruzamos na vida, peregrinos como nós, como os acolhemos, os ouvimos e nos interessamos por eles? Aqueles que estão feridos, na alma e no corpo, tantas vezes de doenças que não se tratam só com remédios mas sim com a nossa companhia, escuta, presença muitas vezes silenciosa, que tempo lhes damos? Não seria este um modo de ajudar até a nossa família com a qual tanto nos preocupamos mas preocupamo-nos mais em que “meter”. Não seria um bom “meter” levar a um tratamento, ajudar a pagar uma consulta, etc... Se arranjamos tempo para ir ao enterro, à missa do 7ºdia (o que é sempre tão consolador para a família pelo calor que sente da amizade), porque será então tão difícil arranjar um “bocadinho” numa tarde para ouvir histórias repetidas, rir e relembrar o que se viveu? Porquê esperar pela morte o que se pode dar em vida?

E onde está o espaço nas nossas vidas para o voluntariado discreto, aquele que não apregoa aos quatro ventos, da mão que acarinha, que aconchega, que seca as lágrimas da criança ou do velhinho no hospital ou no lar que não tem visitas? Também não temos tempo: há a casa, os filhos, os netos, os trabalho, as compras, o shopping, tudo coisas necessárias. Mas as outras não o serão também?

No outro dia, numa sala de espera dum Centro de Saúde, enquanto esperava para fazer um exame, estava um senhor sentado acompanhado pela mulher. Entretanto, a filha trouxe um exame já pronto, foi então que se levantaram e ele muito curvado e apoiado pela filha e mulher esboçou um sorriso lindo e dirigindo-se a toda a sala só disse: “Estimo as melhoras a todos, um bom dia”. Eu devia ter respondido “Obrigado e para si também”, mas não o fiz! Fiquei a pensar que fácil que é falar com o coração e que lufada de “misericórdia” este senhor deu com tanta simplicidade.

A vida da Madre Teresa está repleta destes sorrisos, destes exemplos. Ela sempre reforçou que este amor começa em casa, vive-se nos lares que devem ser centros de misericórdia. Vivermos sem a ansiedade do bem-estar, da riqueza, ao ponto dos pais não terem tempo para as crianças, os filhos para os pais mais velhos, os casais um para o outro. Há poucos sorrisos e risos verdadeiros, aqueles que vêm do coração. E é aí, dentro de casa, que começa a fractura da paz do mundo. A dedicação da Madre Teresa aos doentes e abandonados, não precisava de palavras, pois na Índia não é permitido apregoar outras religiões. A sua dedicação vinha directamente do coração transformada em actos concretos , desinteressados e cheios de compaixão. Foram um exemplo extraordinário que passou todas as fronteiras do Amor de Cristo que podemos dar aos outros.

Todo este caminho leva-nos para junto daqueles que foram andando e que já não os vimos quando chegar a hora de também nós partirmos para o Pai. E assim, podermos sentir o consolo de que quando estiveram entre nós, procurámos com palavras de ternura e também com acções que vêm do coração, tornar essa passagem menos sofrida - com a esperança de que tenham sentido o Amor sem medida que Jesus tem por todos nós. Pois a vida continuará doutra forma e em paz junto do Pai com aqueles que já foram à nossa frente.

É com a humildade do publicano que sabemos o pouco que fazemos e que só com a força da Fé que recebemos no baptismo conseguimos ajudar os que ficam a superar o vazio deixado por quem parte numa viagem sem regresso. Porque temos a esperança forte que a Vida não acaba, apenas se transforma. E que junto do Pai eles esperam e olham por nós.

Teresa Teotónio Pereira
(Comissão da Unidade Pastoral de Sintra para o Jubileu da Misericórdia)

 

Links

Unidade Pastoral de Sintra, Igreja de S. Miguel, Avª Adriano Júlio Coelho (Estefânia), 2710-518 SINTRA

Telf: 219 244 744 EMail: sao.miguel@paroquias-sintra.pt