Ferramentas Pessoais

Você está aqui: Entrada / Jubileu da Misericórdia / Jubileu da Misericórdia - Fevereiro

Jubileu da Misericórdia - Fevereiro

Misericordiosos como o pai - Reflexão para o mês de Fevereiro

Começamos esta nossa peregrinação por reflectir sobre: “dar de comer aos famintos”, “aconselhar os indecisos ou dar bom conselho”; a Parábola d’O homem rico e do pobre Lázaro; e vamos ainda conhecer um pouco sobre S. Vicente de Paulo a quem invocamos para que interceda por todos os necessitados para que sejam consolados e por nós próprios e nos obtenha a graça de sermos misericordiosos com alegria.

Dar de comer a quem tem fome | Mt 25, 35.37.42

Nesta passagem, Jesus, através dos seus discípulos, interpela cada um de nós acerca do amor que partilhamos com os irmãos, sobretudo com os pobres, os débeis e os desprotegidos. A questão é esta: o egoísmo e a indiferença para com o irmão que sofre, não têm lugar no Reino de Deus. Quem insistir em conduzir a sua vida por esses critérios, ficará à margem do Reino.

Desde logo quando Jesus nos ensina a oração do Pai Nosso, invocamos a Deus: «O pão nosso de cada dia nos dai hoje» (Mt 6, 11). Ao longo das Escrituras são muitas as referências ao pão, pois era este o alimento básico na Palestina, sendo a fome uma característica da experiência vivida pelo Povo de Deus nos quarenta anos que durou a travessia do deserto. A fome é também, hoje como no passado, característica dos pobres.

A esse propósito o Papa Emérito Bento XVI, na Encíclica Caritas in veritate (2009) alerta: «Em muitos países pobres continua – com risco de aumentar – uma insegurança extrema de vida, que deriva da carência de alimentação: a fome ceifa ainda inúmeras vítimas entre os muitos Lázaros, a quem não é permitido – como esperara Paulo VI – sentar-se à mesa do rico avarento.»

Em Jesus, a fome e o pão, são também tratados na perspectiva de que a nossa vida não depende só do que é material. Quando foi tentado pelo Demónio, no deserto, «Respondeu-lhe Jesus: ‘Está escrito: Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.’» (Mt 4, 4). Nesta passagem, Jesus tem fome e é tentado a transformar as pedras em pão. Podia ter cedido à tentação de fazer dos bens materiais – o pão – a prioridade fundamental naquele momento, no entanto, Jesus sabe que a realização do homem e a sua felicidade não estão na acumulação egoísta dos bens materiais de que podemos usufruir, antes se encontra no cumprimento da Palavra, isto é, na vontade do Pai. Regressemos à oração do Pai Nosso: «venha o teu Reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no Céu.» (Mt 6, 10).

 

Dar bom conselho

«A dúvida faz cair no medo e muitas vezes é fonte de solidão.» (MV 15)

Como posso ajudar? Um dos dons do Espírito Santo é o dom do conselho. Por isso, quem desejar um bom conselho deve, primeiramente, estar em sintonia com Deus, pois não se trata de dar opiniões pessoais, mas de aconselhar bem a quem necessita de um guia. São perigosos os conselhos dados sem uma vida de oração, sem a graça do Espírito Santo que permite ao conselheiro perceber os sinais de Deus que o auxiliam na compreensão do problema e discernimento da vida.

«O saber do sábio derrama-se como água que transborda, e o seu conselho permanece como fonte de vida» | Sir 21, 13

«Bendirei o Senhor porque Ele me aconselha; até durante a noite a minha consciência me adverte» | Sl 16, 7

Aconselhar não é profetizar o futuro, muito menos projetar as nossas angústias; é antes de mais, à luz da oração e do conhecimento da vontade de Deus sobre a humanidade, ajudar os que nos pedem conselho nas opções e decisões a serem tomadas.

Parábola d’O homem rico e o pobre Lázaro | Lc 16, 19 – 31

Naquele tempo, disse Jesus aos fariseus: «Havia um homem rico, que se vestia de púrpura e linho fino e se banqueteava esplendidamente todos os dias. Um pobre, chamado Lázaro, jazia junto do seu portão, coberto de chagas. Bem desejava saciar-se do que caía da mesa do rico, mas até os cães vinham lamber-lhe as chagas. Ora sucedeu que o pobre morreu e foi colocado pelos Anjos ao lado de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. Na mansão dos mortos, estando em tormentos, levantou os olhos e viu Abraão com Lázaro a seu lado. Então ergueu a voz e disse: ‘Pai Abraão, tem compaixão de mim. Envia Lázaro, para que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nestas chamas’. Abraão respondeu-lhe: ‘Filho, lembra-te que recebeste os teus bens em vida e Lázaro apenas os males. Por isso, agora ele encontra-se aqui consolado, enquanto tu és atormentado. Além disso, há entre nós e vós um grande abismo, de modo que se alguém quisesse passar daqui para junto de vós, ou daí para junto de nós, não poderia fazê-lo’. O rico insistiu: ‘Então peço-te, ó pai, que mandes Lázaro à minha casa paterna – pois tenho cinco irmãos – para que os previna, a fim de que não venham também para este lugar de tormento’. Disse-lhe Abraão: ‘Eles têm Moisés e os Profetas. Que os oiçam’. Mas ele insistiu: ‘Não, pai Abraão. Se algum dos mortos for ter com eles, arrepender-se-ão’. Abraão respondeu-lhe: ‘Se não dão ouvidos a Moisés nem aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão’.

Lc 16, 19 - 31

Nesta parábola, Jesus dirige-Se aos fariseus que representam todos aqueles que vivem em função do dinheiro. Começa por apresentar o homem rico e o pobre Lázaro, caracterizando a opulência do primeiro em contraste com a miséria e o sofrimento do segundo, para de imediato passar à morte de cada um deles e ao seu destino para além da morte. A partir daqui, Jesus, mostra-nos os tormentos por que passa o homem rico, em contraste com o consolo de Lázaro na companhia de Abraão, lembrando-nos que os bens que usufruímos nesta vida são dons de Deus que se destinam a serem partilhados por forma a assegurarem uma vida digna a todo o ser humano. O homem rico usou dos bens em benefício próprio, sem os partilhar, esquecendo-se de acudir às necessidades do pobre Lázaro, defraudando assim o projecto de Deus.

Com esta parábola, Jesus não condena quem é materialmente rico. O que Jesus condena é todo aquele que vive centrado em si, no seu egoísmo, procurando acumular riqueza, sem se preocupar em partilhar do que tem com os mais necessitados.

Mas Deus olha e conhece o coração de cada um e não se deixa iludir pela aparência, por isso, chama a atenção dos hipócritas: «Vós gostais de parecer justos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações. De facto, o que é importante para os homens é detestável para Deus» (Lc 16, 14 – 15).

De uma forma geral, nas parábolas encontramos um Deus misericordioso, contudo, nesta parábola, após a morte dos dois personagens, verificamos que não há como voltar atrás a remediar o mal que foi feito. O tempo é um factor chave! Em vida, é tempo de acudir os necessitados; o rico nunca acudiu a Lázaro; conhecia-o, mas ignorava-o. Na eternidade, o tempo não existe, por isso, quando o rico reconhece Lázaro e lhe suplica por ajuda, este não tem como lhe valer, há um abismo intransponível que os separa.

Procuremos, pois, neste tempo favorável do Jubileu da Misericórdia, viver o espírito de fraternidade, amor e partilha para com os nossos irmãos mais necessitados e, seguindo o conselho do Apóstolo: «Quem pratica a misericórdia, faça-o com alegria» (Rm 12, 8).

 

S. Vicente de Paulo

São Vicente de Paulo nasceu a 24 de abril de 1581, na aldeia Pouy, sul de França. Foi ordenado sacerdote, aos dezanove anos, em 23 de setembro de 1600.

Inspirado pelo seu amor a Deus e aos pobres, Vicente de Paulo foi o criador de muitas obras de amor e caridade, entre elas a Juventude Mariana Vicentina e, presentes na nossa Unidade Pastoral, as Conferências Vicentinas. A sua vida é uma história de doação aos irmãos pobres e de amor a Deus, sendo, no seu tempo, conhecido como o «santo das caridades».

Naquele tempo às mulheres estava destinado o claustro, no entanto S. Vicente abriu-lhes o «mosteiro do mundo», tendo ficado célebres – pela mudança de época que significaram – as palavras com que delineou a nova “forma de vida” para as suas “irmãs da Caridade”: «Elas terão como mosteiro as casas dos doentes e aquela onde reside a superiora. Como cela, um quarto alugado. Como capela, a Igreja paroquial. Como claustro, as estradas da cidade. Como clausura, a obediência. Como grades, o temor a Deus. Com véu, a santa modéstia. Como profissão, a confiança constante na divina Providência e a oferta de todo o seu ser.»

Dizia-se de S. Vicente de Paulo, ter sido a encarnação da Providência Divina com os pobres e necessitados; a mão visível de Deus, secando suores e enxugando lágrimas, acalmando dores e extirpando misérias. Quando lhe surgia algum problema para o qual não tinha resposta imediata, parava e reflectia perguntando a si mesmo: “Que faria neste caso Jesus?” E actuava segundo o conselho da voz interior do Espírito.

S. Vicente referia com insistência: «O fim principal pelo qual Deus nos chamou é para amar Nosso Senhor Jesus Cristo. Se nos afastarmos, mesmo que seja pouco, do pensamento que os pobres são membros de Jesus Cristo, infalivelmente diminuirão em nós a doçura e a caridade».

Conta o seu biógrafo que, no seu leito de morte, a última palavra que pronunciou foi exactamente esta: «Jesus!».

Faleceu em 27 de setembro de 1660 e foi sepultado na capela-mãe da Igreja de São Lázaro, em Paris. Foi canonizado pelo Papa Clemente XII em 16 de junho de 1737. Em 12 de maio de 1885 é declarado patrono de todas as obras de caridade da Igreja Católica, por Leão XIII. Na oração litúrgica pondera a Igreja as suas virtudes apostólicas para o serviço dos pobres e para formação dos sacerdotes.

 

Victor Hilário (Comissão da Unidade Pastoral de Sintra para o Jubileu da Misericórdia)

 

Links

Unidade Pastoral de Sintra, Igreja de S. Miguel, Avª Adriano Júlio Coelho (Estefânia), 2710-518 SINTRA

Telf: 219 244 744 EMail: sao.miguel@paroquias-sintra.pt